N.º 5 (1995): ALTERIDADES: CONSTRUÇÃO CULTURAL E (DES)FIGURAÇÕES DO OUTRO

Uma das heranças mais produtivas do pós-estruturalismo terá sido, vemo-lo hoje, as possibilidades abertas pela teorização da crise do sujeito e da identidade à luz dos conceitos de ideologia, significante e inconsciente. Tal desenvolvimento permitiu ao discurso crítico e filosófico empreender uma verdadeira revolução no pensamento logocêntrico do Ocidente, na sua obsessão com a unidade e a origem e todas as formas de presença a si do idêntico a si próprio.
O que descobre é a realidade multiforme do outro e o seu papel constitutivo na construção do «eu», seja ao nível do discurso, seja ao nível das manifestações dominantes do poder (político, patriarcal, imperial). A alteridade torna-se, então, num objecto privilegiado de estudo, documentada em inúmeros trabalhos que recentemente têm sido publicados no campo da psicanálise, dos estudos feministas, da teoria pós-colonial, bom como na extraordinária expansão, por exemplo, dos estudos em comunicação intercultural, etnicidade e literatura de viagens.
As colaborações que constituem este nº 5 da Dedalus pretendem registar alguma da investigação que consideramos representativa daquilo que, neste contexto, escolhemos designar por Alteridades: Construção Cultural e (Des)figurações do Outro. Seguindo o modelo editorial que, de um modo geral, orienta a revista desde o primeiro número, não podíamos, contudo, deixar de lembrar um dos maiores pensadores da alteridade no nosso tempo, Mikhail Bakhtine, cujo centenário do nascimento se comemora em 1995. Gostaríamos de considerar parte deste número como uma homenagem que a Comissão de Redacção presta a Bakhtine e de convidar a comunidade dos comparatistas a partilhá-la.
Finalmente, uma nota justificativa da inclusão de um texto em espanhol e outro em alemão: não é nossa intenção abandonar a política editorial que faz do português, do francês e do inglês as línguas oficiais da revista. Teria sido, por outro lado, simples traduzir os dois textos em questão; no entanto, em nome da alteridade, quisemos conservá-los nas suas línguas de partida, afinal duas das grandes línguas de cultura do universo comparatista ocidental.
A Comissão de Redacção